sábado, 30 de maio de 2009

Algemas

Quanto pesa uma corrente?
Pesa-me a dor que trago dentro de mim.
Procuro vida,
Apenas não encontro.

Continuo com a urgência de querer, de ser, de poder…
Afinal a ansiedade que me habita tem razão,
O meu querer imediato de liberdade não existe.

O vermelho, ira que me possui em segundos,
Tira-me o fôlego…
A procura de uma paz simples que não quer voltar.
A falta de coragem quando as palavras deixaram de servir,
O movimento e a força também.

Caio, de braços abertos,
Rodopio pelo ar, em queda livre,
De uma nuvem que me expulsou,
Porque não fui valente o suficiente,
Porque as palavras me abandonaram e dei lugar a lágrimas.

Enxugo as mesmas com a roupa que vou tirando aos poucos,
Ainda com a esperança de volta…
Embrenho a cara nos cabelos que já não tenho,
e o chão absorve o sal das lágrimas nada furtivas e lentas.

Formei o lago que me amparou a queda,
Deixei a névoa junto de uma nuvem que continua sem se mostrar,
Apenas lhe sinto desilusão, no meu sangue,
Sangue com a sua essência,
Desilusão que me domina.

Ai, liberdade que me atravessas a carne, sem piedade e com violência!
Antes não queria ser livre...
E agora me torturas!

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Dos sofrimentos...

Acordei agora cedo, e estou com medo de sair de casa
Porque sei que há lá fora um sofrimento à minha espera.
Eu não saí então o sofrimento entrou e me pegou.

Hoje tirei a minha alma da cama,
A grande custo!
Sentia-me demasiado pesado…
Desalentado, perdido, o coitado…
Não queria o mundo, não tem sentido nele...

“Vem, não sejas tolo, o mundo adora-te”
como ele costumava dizer-me… continuou ele...
“Não sejas narcísico”


Bom... tenho mais um dia a viver!
Tu já viveste muitos, eu só tenho estes,
Com ou sem amarguras.

Ainda falta muitas pedras para receber.
Tenho que ser vaiado!
Continuar a sentir a dor da rejeição…
Sentir as angústias maiores que o coração, e ocupam todo o corpo.
Que este fique inerte de desgosto…
Que me caiam das mãos as alegrias conquistadas,
Que sinta a fome do amor,
Do estômago, e de todas as coisas boas.
Estou vendo raios caírem sobre mim,
Quero cortar pele, para nunca mais crescer.

Preciso sofrer?
Para aprender a valorizar o que de bom tenho conquistado?
Pena que já não tenho mais conquistas...

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Desapareço

Dissolvo-me, em ácidos ferventes e frios
perco-me numa imensa liquidez transformista de realidades,
perco a forma e a cor, deixo de ser,
fico embutido em paredes rugosas,
que se movem com a vontade alheia,
e me engolem com sofrimento.

Tropeço nas pedras do caminho de areia fina,
são de pó os meus pés, é a minha matéria,
a minha vontade é mais dura que aço ou concreto,
trago na janela posta uma porta blindada,
das mãos faço cilindros
e atiro-me com o rugir de uma coragem que não parece minha...
Dissolvo-me na sociedade,
perco gotas de sangue no silêncio da escada e da estrada,
perco-me nas vielas e encontro-me em janelas furtadas,
espreito luzes e ando em sombras minhas e esquecidas,
mudo com o tempo e sinto na pele a incapacidade de ser sem querer, e de querer sem gritar…
são gritos o que trago no olhar, na boca muda, e no coração...